segunda-feira, 30 de abril de 2012

VLT de Campinas: Uma revolução engolida pelo mato

30/04/2012 - Agência Anhanguera de Notícias

Abandono das estações do VLT gera medo, indignação, mas também esperança de que algo ainda possa ser feito

Criado sob o pretexto de ser uma alternativa para o transporte público de Campinas na primeira metade da década de 90, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) fracassou e levou com ele 120 milhões de dólares (R$ 226,5 milhões atualmente) para o ralo. Feito às pressas para servir de vitrine eleitoral e ineficaz desde a sua primeira viagem, o sistema hoje deixa uma amarga lembrança. O abandono das estações e do trajeto como um todo gera medo, indignação, mas também esperança de que algo ainda possa ser feito.

Na semana em que a Prefeitura anunciou a obtenção de R$ 295 milhões do governo federal relacionados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) da Mobilidade para investir no setor viário e de transporte da cidade, o Correio percorreu boa parte dos 8 quilômetros de extensão do trajeto onde pouca coisa sobrou inteira para contar a história.

Em muitos pontos, o mato já tomou conta de tudo. As antigas estações foram depredadas, pichadas e servem como ponto para consumo de drogas, moradia de andarilhos e esconderijo de ladrões. Na Vila Dutra, por exemplo, um cavalo parece ser o único responsável pela limpeza do mato alto. A maior concentração de entulho é uma piada de mau gosto. Ela está bem ao lado de uma placa onde se lê: “Proibido Jogar Lixo e Entulho. Lei nº 11455/02”.

Perto dali, a dona de casa Aparecida Regina Martins lembrou já ter ficado com um revólver apontado para a sua barriga e também para sua filha de 5 anos por um assaltante. Ele aproveitou o mato para se esconder. “Isso (o VLT) foi dinheiro perdido, jogado fora. Em vez de sair uma coisa boa, fica esse abandono”, lamentou, mas confiante de que algo possa mudar. “A gente sempre tem esperança de que alguma coisa melhor aconteça”, disse. O morador Evandro Camargo não tem a mesma sensação. “Andei de VLT quando era pequeno e acho que nunca mais vou andar na vida”, ironizou.

Na Vila Teixeira, o espaço onde estavam os trilhos também mais parece um depósito de lixo. O que havia de valor ali sumiu. Até a torneira do local onde era a casa de máquinas foi levada. Um pontilhão serve de espaço para o consumo de drogas. “Esse abandono já fez a gente receber muitas visitas indesejadas. Como os fundos da entidade dão para o VLT, à noite, pessoas pulam o cercado e usam os nossos bancos como motel. Só este ano, também já tivemos dois assaltos aqui na frente”, lembrou a gerente da Associação de Pais e Amigos de Surdos de Campinas (Apascamp), Adriana Garcia Machado.

Desde dezembro, ela tenta acionar a Prefeitura para fazer uma limpeza do local. “Já liguei seis vezes. É uma enrolação, nunca tive resposta”, comentou. Uma proposta da direção da Apascamp é utilizar a antiga casa de máquinas do VLT que fica ao lado da sede da entidade. O local poderia servir para um trabalho social, mas continua sem serventia nenhuma.

O militar reformado Antônio Inácio dos Santos mora nas proximidades e cansou de esperar. Ele mesmo faz a limpeza do mato próximo de sua casa. “Já falaram que isso aqui ia virar avenida, corredor de ônibus e até agora nada”, comentou o morador.

Na Vila Rica, a estação do VLT é espaço para lixo e ratos. Num cenário desses, onde do outro lado da cerca está a Administração Regional (AR-6), a dona de casa Roberta Rosa vive com outras 9 pessoas em uma casa de alvenaria de um cômodo. A família “mora” na estação há cinco anos. Eles sobrevivem também com doações. Assim, duas carteiras escolares foram parar ali. Suas enteadas usam para brincar e estudar, no meio das sucatas.

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