quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Funcionários do VLT denunciam onda de assaltos nas estações

18/10/2017 - A Tribuna

Sob anonimato, eles falam sobre rotina de medo e insegurança nas plataformas

GABRIEL OLIVEIRA 

Estações são monitoradas por câmeras, mas o sistema não impede os assaltos (Foto: Fernanda Luz/AT)

Funcionários do consórcio BR Mobilidade lamentam os constantes assaltos a vendedores de passagens nas estações do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).

Nos últimos três meses, quando as ações dos bandidos se intensificaram, o medo passou a ser companheiro de trabalho do pessoal do BR Mobilidade.

O consórcio não informa o número de ocorrências, apesar de a Reportagem ter solicitado o dado duas vezes, mas os relatos dão a dimensão do perigo ao qual os funcionários estão expostos todos os dias.

Eles falaram sob anonimato. O receio é de represálias, já que a empresa ordenou que os trabalhadores não falem com a imprensa. Mas alguns, cansados da insegurança, resolveram quebrar o silêncio.

Um trabalhador se viu na mira de ladrões por quatro vezes. “Eles levam tudo o que tem: dinheiro, cartões e nossos pertences. Teve uma semana que foram oito assaltos”.

Os vendedores se tornaram presas fáceis porque comercializam os cartões unitários do VLT e, por isso, trabalham com dinheiro vivo. Além disso, não há policiamento no entorno das estações. “Tem câmeras e a central fica acompanhando o roubo, mas, quando a polícia chega aqui, os caras já foram embora”, relata outro funcionário.

Uma outra vendedora afirma que já houve até arrastão em uma estação de São Vicente, onde a insegurança é pior do que em Santos, segundo ela.

Mudança de rotina

Diante da situação, os funcionários fazem o que podem: deixam de levar pertences, como o celular, para o trabalho e procuram prestar mais atenção ao que ocorre ao redor. “Uma vez vi uns rapazes se aproximando e liguei para a central. Eles viram que eu percebi e só não vieram porque a estação estava movimentada”, conta uma funcionária.

O pessoal tem até vendido menos passagens para não ficar com muito dinheiro em mãos. A BR Mobilidade também tem mandado menos cartões para os vendedores. Tudo para evitar as ações dos criminosos.

“Normalmente, eu compro quatro passagens. Dei uma nota de R$ 20,00, a vendedora falou que não tinha troco e que não poderia me vender mais que dois bilhetes. Recomendou que eu comprasse em uma oficina do outro lado da rua, onde me disseram que estavam vendendo menos por causa de assalto”, conta a jornalista Sílvia Domingues, de 34 anos.

Procurada, a BR Mobilidade preferiu não entrar em detalhes. Em nota, apenas afirmou que “está tudo dentro da normalidade”.  

Tendência é que passagens sejam adquiridas por meio das máquinas (Foto: Fernanda Luz/AT)

Tendência

Funcionários do VLT dizem que a tendência é que eles deixem de vender as passagens nas estações em breve, justamente para não ficar com dinheiro, expostos os criminosos. Quando isso ocorrer, os usuários terão de comprar cartões unitários ou recarregar o BR Card nas máquinas que ficam na entrada das estações. 

Os funcionários estariam por lá apenas para auxiliar os passageiros a utilizar o equipamento. O consórcio BR Mobilidade não se pronunciou também sobre isso.

PM admite perigo e reforça segurança

A Polícia Militar admitiu que o perigo ronda as estações do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e disse que tem feito de tudo para evitar os assaltos.

Em nota, a corporação garantiu que reforçou o policiamento e “que uma viatura está disponível todos os dias, das 6 às 2 horas, para percorrer todas as estações em São Vicente e estacionar em pontos estratégicos das instalações do VLT visando reduzir a criminalidade local”.

A PM ainda pediu ajuda da população para que denuncie “situações que fujam à normalidade”, pelo telefone 190 em casos de emergência, e pelo 181 – o Disque Denúncia.

Manutenção da qualidade

Questionada sobre a informação de que os funcionários estavam vendendo menos passagens, a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), responsável pelo transporte metropolitano, disse que está “atenta e monitora as ações do consórcio BR Mobilidade”.

“Se verificada qualquer providência que prejudique a operação e, consequentemente, os passageiros, serão adotadas as medidas contratuais cabíveis para a manutenção da qualidade dos serviços”.